quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sem título

Ali estava ela, sentada, à espera.
Os olhos começavam a ficar húmidos.
O comboio que tinha chegado há cerca de meia hora, tinha trazido pessoas sorridentes. Os abraços e os beijos de alegria tinham feito o tempo voar. O fim da espera de todos os outros tinham-na distraído da sua.
Agora o comboio partia. O barulho e o alarme da estação despertavam-na dos momentos felizes anteriores. Minutos depois de o comboio ter desaparecido na linha curvada, ela via a estação novamente vazia, ou quase. O silêncio era pesado, tão real que lhe lembrava que os seus sonhos não se realizavam. Nunca teria aquele enontro, nem ali nem noutro lugar. Nem com ele nem com mais ninguém.
Naquele momento ela soube que ele não apareceria. Nem estaria ali escondido, a vê-la de longe. A descobrir-lhe o sorriso, o olhar, as ondas do cabelo. Nunca conheceria os sonhos dela nem nunca a abraçaria ou sentiria o seu perfume, nem ela o dele.
A visão era turva, as lágrimas velozes acariciavam-lhe o rosto e desapareciam nos seus lábios. Ela sentia o sabor daquele despertar. Atava-lhe a garganta e o ar faltava-lhe.
Com a ponta dos dedos limpava o excesso de lágrimas para tentar ver.
Levou a cabeça para trás e olhou para cima. Achava que veria o céu, um horizonte longo que lhe permitisse respirar fundo. Em vez disso, via um tecto escuro, metálico, industrial. Alto, mas pouco profundo.
Finalmente respirou fundo, muito profundamente. Preparou-se para se levantar, como se para mergulhar num rio frio se tratasse. Encheu-se de coragem e num impulso pôs-se de pé.
Não sabia para onde iria, apenas que o caminho agora seria sair da estação.
Precisava respirar ar novo, frio, que lhe despertasse o corpo e a fizesse sentir viva novamente.
Sorriu quando olhou para as mãos e as sentiu ainda húmidas das lágrimas agora enxutas. Sentia-se viva já. Com aquele cheiro abafado da respiração pesada de todas as pessoas que ali passavam, o nevoeiro que entrava pelo túnel, o cheiro do cimento molhado, do óleo e do ferro das linhas.
Sim, era aquilo que a fazia sentir-se viva. Todos os cheiros e ruídos que a envolviam.
No primeiro passo que deu, um braço puxou-a e ao mesmo tempo e foi obrigada a voltar-se. Seria ele? Não conhecia aquele rosto. Não conhecia aquela voz. Com a outra mão, ele apontava-lhe a bolsa esquecida no banco da Linha 2. Ela sorriu e agradeceu vagarosamente. Tentava processar aquele novo momento. Soltou-se e ao chegar à bolsa ouvi-o a chamá-la. Perguntou-lhe se ela saberia onde era o Parque Século XXI. Estava a fazer um trabalho qualquer sobre arquitectura e queria fotografar qualquer coisa que ela não reteve. Ela abanou a cabeça e disse que não. Também era estrangeira naquela cidade. Ele percebeu que ela tinha chorado. Tinha manchas de rímel desbotado no rosto. Perguntou-lhe se estava bem e se queria tomar um café. Ela riu-se. Estava óptima na verdade. Já tinha vivido, processado e arrumado aquele desencontro.
Sorrindo, acenou com a cabeça e disse que um café lhe saberia muito bem.
À saída da estação, aquele ar renovado fê-la abrandar. "Não, não posso" disse parando. Disse que não se tinha dado conta das horas mas teria de apanhar um novo comboio. Iria para outra cidade fazer uma surpresa à sua prima.
O olhar dele era quase triste ao despedir-se dela. Viu-a a entrar na estação e deu-se conta que nem tinha perguntado o seu nome nem sabia de onde era aquela estrangeira. Seria francesa, italiana, espanhola?
Enquanto ela entrava, pensou para si  mesma que alimentava histórias demasiado depressa e tudo o que precisava era de tempo e espaço para ela. Por mais simpático e interessante que ele pudesse parecer ser,  ou que parecessem ser os homens com quem se cruzava. Repetia agora para si mesma que se afastaria e que deixaria sempre espaço suficiente para que alguém que a quisesse conhecer, tivesse de querer o suficiente para percorrer a distância a que ela se manteria.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Vamos mudar o mundo!

Global Sustainability Jam

Em Novembro, em todo o mundo, vão ser promovidas jam sessions, não de música, mas de ideias. Ideias que pretendem mudar o mundo, para um mundo melhor.

Portugal marca presença com duas cidades, Braga e Lisboa.

Braga Sustainability Jam





quinta-feira, 18 de outubro de 2012

respirar fundo

precisa de respirar verde, frio, cheiro a lareira, montanha, lago
um horizonte verde que lhe afague o rosto, que lhe abra o peito
que a sossegue e a segure por uns dias,
não muitos, só os suficientes para que ela possa dormir e reaprender a respirar

um lugar secreto, sem despertadores e protegido do mundo


elas sabem tudo

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

é tudo uma questão de espera

há muitas coisas que quero conhecer, muitas que quero aprender.
mas preciso de tempo e de disponibilidade mental.
é que por muito que queira, às vezes não quero o suficiente ou outros interesses se impõem.
dias depois, olhando para trás, há um misto de uma quase frustração-arrependimento que me invade.
o que eu poderia ter feito e não fiz...
mas, se me instalassem um programa que eu fizesse correr e então teria aprendido e conhecido mais de tudo ou parte do que quero, seria o apanhar de horas "mal aproveitadas". uma viagem ao passado com direito a projecção para o futuro. uma viagem económica em primeira classe.
ainda assim, não. não quereria um programa que corresse.
porque aprender e apreender requer o seu tempo, quase sempre demorado. e é nessa demora que se cria espaço para emoções que consolidam o que de novo se nos apresenta.
este processo proporciona um prazer que nos transporta, onde a curiosidade, que fica mais intensa com o tempo de espera, funciona como preliminar, aguçando e despertando sentidos. se a curiosidade for grande, e a mente aceitar o que vier, maior será a probabilidade de um intenso prazer.