terça-feira, 26 de novembro de 2013

encontra sempre um caminho

andamos a ler os pensamentos um do outro
sempre lado a lado, sem nos cruzarmos
como duas linhas paralelas.
espero que assim seja
e que na curva do universo nos encontremos e possamos caminhar sobre os mesmos pontos

http://www.youtube.com/watch?v=GJno-aQIgPk

sobre os (des)encontros

por favor
não me digas agora que me vês
que me vês com toda a minha força
que brilho de dia e de noite
que brilho de cada vez que o meu nome é pronunciado
que brilho quando te lembras de mim
que a minha presença é constante, onde quer que eu esteja
não me digas agora
preciso que não me vejas mais
não agora...

enviei para outras paragens o meu embrulho para ti
ainda que lhe sinta o ritmo cardíaco no seu interior
rodei o botão redondo, que é feito para girar
girei-o até outra frequência apanhar
devagar ouço outras músicas, que gosto
o ruído que ouço por baixo, quero pô-lo de lado
quero cantar por cima, a duas vozes
não quero ouvir
não quero que me vejas como fui

continuo essa mulher, mas não tua
ando para a frente, mesmo que devagar
mesmo que olhe para trás, às vezes
é para frente o caminho e é para a frente que vou

... por favor, não me vejas agora
agora que sinto não ter força
e não quero parar, não posso querer

http://www.youtube.com/watch?v=MTvHcQmKUpU

terça-feira, 12 de novembro de 2013

sobre corações

- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. - Por exemplo, se vieres às quatro horas, às três, já eu começo a estar feliz. E quanto mais perto da hora, mais feliz me sinto. Ás quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a conhecer o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... Precisamos de rituais.


in O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 5 de novembro de 2013

digo eu ao meu coração

há momentos em que quase baixo os braços
só o meu peso na água e a baixa resistência desta mos elevam
é quase como voar

sempre que sonhava que voava, sonhava que começava por correr e rodopiar sobre mim mesma
depois, voar era como nadar bruços no ar

e sempre fui capaz de voar

mas era sobre afundar-me que estava a falar
é
estou a afundar-me
e já nem eu me resgato
já não tenho nenhuma rocha mais alta onde possa apoiar um pé e dar um impulso para respirar à tona
estou como que a morrer lentamente
(não estamos todos?)

não sei nada...
nada

e nem nadar quero
quero o silêncio debaixo d'água
onde nem os meus pensamentos façam eco
quero silenciar o meu pensamento
quero silenciar os tambores nos ouvidos

os tambores nos ouvidos, imaginava eu, quando era criança, que eram formigas a caminhar num caminho em forma de espiral dentro do meu ouvido. pareciam formigas, mas eram na verdade bichos carpinteiros.
os meus pais diziam-me que eu tinha bichos carpinteiros.
quando me deitava, ouvia-os dentro do meu ouvido encostado à almofada.

só mais tarde descobri que não eram bichos carpinteiros, eram afinal as batidas do meu coração

shhh...
cala-te por favor
quero adormecer nas profundezas do oceano