terça-feira, 5 de novembro de 2013

digo eu ao meu coração

há momentos em que quase baixo os braços
só o meu peso na água e a baixa resistência desta mos elevam
é quase como voar

sempre que sonhava que voava, sonhava que começava por correr e rodopiar sobre mim mesma
depois, voar era como nadar bruços no ar

e sempre fui capaz de voar

mas era sobre afundar-me que estava a falar
é
estou a afundar-me
e já nem eu me resgato
já não tenho nenhuma rocha mais alta onde possa apoiar um pé e dar um impulso para respirar à tona
estou como que a morrer lentamente
(não estamos todos?)

não sei nada...
nada

e nem nadar quero
quero o silêncio debaixo d'água
onde nem os meus pensamentos façam eco
quero silenciar o meu pensamento
quero silenciar os tambores nos ouvidos

os tambores nos ouvidos, imaginava eu, quando era criança, que eram formigas a caminhar num caminho em forma de espiral dentro do meu ouvido. pareciam formigas, mas eram na verdade bichos carpinteiros.
os meus pais diziam-me que eu tinha bichos carpinteiros.
quando me deitava, ouvia-os dentro do meu ouvido encostado à almofada.

só mais tarde descobri que não eram bichos carpinteiros, eram afinal as batidas do meu coração

shhh...
cala-te por favor
quero adormecer nas profundezas do oceano



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