quarta-feira, 24 de julho de 2013

sinto
sinto muito
sinto tanto
que o meu coração dispara
sempre, sem intervalo
tão rápido que me foge do peito
voo atrás dele
tropeço, esfolo-me, sangro, choro
e ele bate, sem parar
como que marca os ritmos das minhas pernas,
uma atrás da outra, a correr, sempre atrás dele
coração louco este que bate como o de um pássaro
que me faz arfar, respirar fundo, profundamente
como quem cansa e suspira
bate forte e suavemente, silencioso como um tambor
sem sentido, pois...
apenas ele conhece as suas motivações, que não me esconde mas não compreendo
bate tanto, que me esmaga o peito
e de tento bater, o meu coração parou...




segunda-feira, 15 de julho de 2013

sob um céu estrelado

morres-me em espasmos lancinantes
morres-me no colo, no pescoço, na boca, e dentro de mim
só a tua presença na memória e no olhar se mantém, que é o que quero matar, por agora
tentativa vã, estúpida
estúpida como é toda esta cilada e como todas as ciladas o são
morres-me ao ritmo do meu desejo de que compreendas o que há a saber
a minha urgência de que adivinhes o que não mostro
as palavras que te dedico em segredo
a frieza com que te trato,
a minha recusa do desenho que para ti não traço
coro facilmente
deixas as estrelas lá fora
quero que as partilhes comigo cá dentro
vou só
sem saber se vens também
vou comigo mesma sempre
e tu apareces-me e roubas-me a mim
calas-me num turbilhão de respostas silenciosas
matas-me enquanto me morres




sexta-feira, 5 de julho de 2013

vem

entro no parque, olho em volta como quem olha em frente. vejo o twist, e dirijo-me para lá decida e quase sem pestanejar.
ponho-me na fila que é pequena e apenas tenho tempo para ter consciência que já lá estou.
dou um passo em frente e outro e ainda outro. ouço pessoas a rirem e a darem gargalhadas. desocuparam as cadeiras e dão os seus lugares aos próximos.
sento-me na cadeira que está mais de lado. é rosa, verde e amarela. tem umas flores pintadas com umas notas de vermelho e azul. é bonita.
sento-me o mais confortavelmente que consigo e encosto-me para trás. apoio a cabeça como quem a deixa cair. vejo o céu ao fim da tarde. ouço os passos apressados na chapa metálica do chão dos que não querem perder a viagem.
vem uma espécie de revisor verificar se a cadeira está bem trancada e sorri-me. retribuo o sorriso levemente e volto a olhar o céu. ouço uma e outra vez a sirene e o twist começa a andar, devagar, bem devagar. a velocidade vai aumentando e o vento sopra-me no rosto. o céu gira e as estrelas formam círculos prateados num céu cor-rosa. vou ficar aqui neste carrossel até que me venhas buscar.
não quero mais nenhum divertimento, quero este que me faz andar à roda, me faz sentir que posso levantar voo ainda que me prenda. quero este em que ouço os risos e os gritos de entusiasmo e os de medo.
vou ficar até a minha cabeça ficar atordoada, vou ficar até me vires acordar e me levares ao colo.