sexta-feira, 8 de março de 2013

ontem, remexia numas caixas para lhes descobrir o interior e decidir sobre o seu destino.
estava lá um objecto de que me lembro ter gostado muito e que apesar de me ter esquecido da sua existência, ali fechado naquela caixa, no meio de tantas outras caixas, quando o vi e lhe peguei senti esse afecto novamente.
tentei forçar a minha memória até aquele ano. mas qual ano? não me lembro quem mo ofereceu, ou se o comprei... não me lembro dos moldes em que ele veio ter a mim, mesmo tendo tido nós aquela relação de carinho, unilateral talvez, com a origem em mim e o foco nele. nem assim...
senti portanto que o que importava seria o sentimento, e nada mais.
senti-me como a minha mãe. poderia ter sido outra pessoa, mas foi como a minha mãe que me senti.
quando ao longo dos meus anos de vida a via relacionar-se com as suas coisas, aquele anel (nunca me esquecerei daquele anel), aquela blusa de seda verde que agora é minha, todas aquelas coisas delicadas e especiais para ela e para mim. lembro-me de lhe perguntar onde tinha comprado aquele vestido, ou quando lhe teriam oferecido aquela pulseira... ela parava de falar, emitia um som profundo ao respirar fundo, como que a alimentar o fogo da memória, olhava para cima, depois franzia a testa com um dedo encostado aos lábios e repetia a pergunta para ela mesma, baixinho. Encolhia os ombros e dizia que já não se lembrava. Sempre me questionei de como seria possível esquecermo-nos da história dessas pequenas coisas especiais. Intrigava-me... Ontem aconteceu-me o mesmo a mim. rapidamente arranjei uma resposta para o fenómeno. são os anos. os anos que já lá vão e separam aquele momento do momento d'ontem. a nossa memória é cheia de curvas e ao fundo desta estrada, com tantas curvas difíceis de manobrar, torna-se também mais difícil ver aquele ponto de partida. Pronto.


Sem comentários:

Enviar um comentário